Hachiko: a história do cão mais fiel do mundo

É a história real de Hachiko, o cão que persistiu em esperar por seu dono na estação de trem no Japão, mesmo após sua morte. O exemplar da raça Akita Inu, que nasceu há um século, foi lembrado de várias formas ? em obras literárias, produções cinematográficas e até mesmo na série de animação Futurama.

Embora existam outras histórias de cães leais, como a do escocês Greyfriars Bobby ? que permaneceu por 14 anos guardando a sepultura de seu dono em Edimburgo, até sua própria morte ?, nenhuma alcançou o impacto global de Hachiko. Para ajudar a por em perspectiva, foi recetemente lançado na China o terceiro filme que fala sobre a história do animal, e é o atual líder de bilheteria no país, além deste, há uma versão japonesa de 1987 e o Richard Gere em protagonizou uma adaptação norte americana em 2009, intitulado "Sempre ao Seu Lado" no Brasil ? que obteve grande sucesso nas bilheterias.

Uma estátua de bronze em sua homenagem encontra-se localizada próxima à estação de Shibuya, em Tóquio, onde esperou por seu dono durante uma década. A obra foi erguida pela primeira vez em 1934, mas posteriormente foi reciclada como parte dos esforços bélicos durante a Segunda Guerra Mundial, sendo reconstruída em 1948.

No Japão, as crianças aprendem nas escolas a história de Chuken Hachiko, ou seja, o leal cão Hachiko ? utilizado como exemplo de devoção e fidelidade. Segundo a professora Christine Yano, da Universidade do Havaí, nos EUA, ele personifica o "cidadão japonês ideal", com sua "devoção inquestionável". Hachiko representa um ser "leal, confiável, obediente ao mestre, compreendendo seu lugar na vastidão das coisas, sem depender da racionalidade".

A trajetória de Hachiko

Hachiko nasceu em novembro de 1923, na cidade de Odate, localizada na província de Akita, berço da raça com o mesmo nome.

O Akita é um grande cão japonês ? uma das raças mais antigas e populares do país. No passado, eram treinados para caçar animais como javalis e alces, sendo oficialmente designados pelo governo japonês como um ícone nacional em 1931. Eietsu Sakuraba, autor de um livro infantil em inglês sobre Hachiko, afirma que os cães Akita são "calmos, sinceros, inteligentes, corajosos e obedientes aos seus donos". No entanto, também possuem uma personalidade obstinada e desconfiam de qualquer pessoa que não seja seu dono.

No ano em que Hachiko veio ao mundo, Hidesaburo Ueno, um renomado professor de agricultura e amante de cães, solicitou a um aluno que encontrasse um filhote de Akita para ele. Após uma longa viagem de trem, o filhote chegou à residência de Ueno, localizada no distrito de Shibuya, em 15 de janeiro de 1924.

O cãozinho estava tão fraco que parecia estar sem vida, porém Ueno e sua esposa, Yae, cuidaram dele durante seis meses até sua completa recuperação. Ueno o chamou de Hachi, que significa "oito" em japonês. O sufixo "Ko" foi acrescentado pelos alunos de Ueno.

A longa espera

Ueno pegava o trem para o trabalho várias vezes por semana, indo até a estação de Shibuya acompanhado de seus três cães, incluindo Hachiko. O trio aguardava pacientemente pelo seu retorno à noite. Em 21 de maio de 1925, Ueno, então com 53 anos, faleceu devido a uma hemorragia cerebral. "Enquanto as pessoas velavam o falecido, Hachi sentiu o aroma de Ueno na casa e adentrou a sala. Rastejou até se acomodar debaixo do caixão, recusando-se a se mover", escreveu Itoh.

Hachiko passou os meses seguintes em diferentes famílias fora de Shibuya, até que, no verão de 1925, acabou ficando aos cuidados do jardineiro de Ueno, Kikusaburo Kobayashi.

Retornando à localidade onde seu falecido dono residia, Hachiko logo retomou a rotina diária de se dirigir à estação, independentemente das condições climáticas. "À noite, Hachi permanecia junto à catraca, observando cada passageiro como se estivesse à procura de alguém", relata o autor. Inicialmente, os funcionários da estação viam o cão como um incômodo inconveniente. Os vendedores de yakitori (espetinhos de frango) atiravam água em Hachiko, e algumas crianças o maltratavam.

Entretanto, após uma matéria publicada pelo jornal japonês Tokyo Asahi Shimbun, em outubro de 1932, Hachiko ganhou fama nacional. A estação passou a receber doações diárias de comida para o cão, enquanto visitantes de todas as partes vinham para vê-lo.

Em 1934, um evento de arrecadação de fundos para construir uma estátua em sua honra atraiu três mil pessoas. A notícia do falecimento de Hachiko em 8 de março de 1935 foi estampada nas capas de vários jornais japoneses. Em seu funeral, monges budistas proferiram orações, enquanto dignitários discursaram em sua homenagem.

Nos dias que se seguiram, milhares de pessoas visitaram sua estátua.

No Japão pós-guerra, em meio à escassez, uma campanha de angariação de fundos para uma nova estátua de Hachiko arrecadou a colossal quantia de 800 mil ienes, equivalente a cerca de 134 milhões de reais nos dias de hoje.

"Refletindo sobre o assunto, acredito que ele sabia que Ueno não retornaria, mas continuou a esperar. Hachiko nos ensinou o valor de manter a fé em alguém", escreveu Takeshi Okamoto em um artigo de jornal de 1982. Como estudante do ensino médio, ele via Hachiko diariamente na estação.

Anualmente, em 8 de março, ocorre uma cerimônia em homenagem a Hachiko do lado de fora da estação de Shibuya. Durante o ano, sua estátua costuma ser decorada com cachecóis, gorros de Papai Noel e, recentemente, máscaras cirúrgicas.

O corpo empalhado de Hachiko está em exposição no Museu Nacional da Natureza e da Ciência, em Tóquio. Seus restos mortais estão sepultados no Cemitério de Aoyama, ao lado de Ueno e sua esposa, Yae. Além disso, há estátuas de Hachiko em Odate, cidade natal de Ueno, em Hisai, na Universidade de Tóquio e em Rhode Island, nos EUA, local onde ocorreram as filmagens do longa-metragem americano de 2009.

Odate também possui uma série de eventos programados para este ano, em comemoração ao centenário de Hachiko. Mas será que o canino mais fiel do mundo ainda será celebrado daqui a cem anos? Yano acredita que sim, pois o "heroísmo de Hachiko" não está limitado a um período específico, mas é atemporal.

Sakuraba também se mostra igualmente otimista.

"Dentro de cem anos, esse amor incondicional e devoto permanecerá inalterado, e a história de Hachiko viverá eternamente."

 

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