A Cratera de Barringer: uma cicatriz cósmica no Arizona

De vez em quando, um pedregulho espacial cai na Terra e faz um estrago danado. Foi o que aconteceu em 2013, na Rússia, quando um bólido explodiu sobre a cidade de Chelyabinsk e feriu milhares de pessoas. Mas isso é raro - dizem que só ocorre a cada meio século ou mais. Por isso, ficamos tranquilos e achamos que estamos a salvo desses visitantes indesejados.

Ledo engano.

A Terra está cheia de marcas dessas colisões cósmicas, e uma delas está no Arizona, para nos lembrar que o nosso planeta é um alvo fácil para esses projéteis celestes.

A Cratera de Barringer é uma ferida aberta por um choque relativamente recente. Tem quase 1.200 metros de largura e 170 de profundidade. Foi cavada há uns 50 mil anos, quando o clima ali era mais ameno e úmido. Havia plantas e animais por toda parte, inclusive mamutes e preguiças gigantes. Talvez os primeiros humanos que vieram da Ásia pela ponte de gelo do Estreito de Bering tenham visto o clarão e o estrondo que geraram a cratera.

O culpado foi um asteroide metálico, com uns 50 metros de diâmetro, composto de ferro e níquel, que bateu no chão a uns 45 mil km/h, e força equivalente a 10 milhões de toneladas de dinamite. Foi o bastante para arrasar milhares de quilômetros quadrados de florestas, matar tudo que vivia num raio de uns 10 km. Ninguém sobreviveu para contar o caso. Mas então, como sabemos disso tudo?

Pois é, demoramos para saber. Só há pouco tempo descobrimos que essas crateras podem ter origem em impactos de asteroides. Antes, pensávamos que eram vulcões. Mas foi a Cratera de Barringer que nos ensinou que os asteroides também podem mudar a cara da Terra.

A estranha depressão no meio do Deserto do Arizona chamou a atenção dos cientistas desde que foi achada por colonos no século XIX.

Em 1891, o mineralogista Albert Foote recebeu uma pedra de ferro coletada no Norte do Arizona e logo viu que era um meteorito. Foote liderou então uma equipe que coletou uns 270 kg de meteoritos perto da Cratera de Barringer. Os estudos de Foote, além de confirmarem a procedência extraterrestre daquelas pedras, também estimularam novas pesquisas sobre a formação da cratera.

No final daquele ano, o geólogo Grove Karl Gilbert investigou se o tal Monte Coon poderia ser uma cratera feita por um impacto de uma pedra vinda do espaço. Mas ele concluiu que ela era resultado de uma explosão de vapor vulcânico. A conclusão foi baseada no fato de haver uma cratera vulcânica a uns 80 km dali, e também por não haver nenhum vestígio do asteroide atingidor.

Mas em 1903, o engenheiro Daniel Barringer ficou convencido de que a cratera era fruto de um choque cósmico e que esse choque tinha a ver com os meteoritos metálicos achados na região. Ele comprou o terreno para cavar a área. Barringer achava que poderia achar no fundo, uns 100 milhões de toneladas de ferro vindo do asteroide que fez a cratera. Isso o deixaria rico, mas depois de 27 anos de escavações, só conseguiu a falência e o desgosto de seus investidores. Além disso, o fracasso de Barringer em achar os restos do asteroide, colocou em xeque a tese da origem meteorítica da cratera.

Em 1929, Barringer recebeu um relatório do astrônomo Forest Ray Multon, que dizia que o atingidor que fez aquela cratera pesava só 300 mil toneladas e teria sido totalmente vaporizado pelo calor do choque. Foi demais para ele? e de fato, Barringer morreu apenas 10 dias depois de receber o relatório.

Um tempo depois, entre os anos 30 e 50, Harvey Nininger juntou provas de que a cratera de Barringer teria sido aberta pelo impacto de um asteroide. Ele achou no local impactitos, que são pedras formadas pelo resfriamento aerodinâmico de material derretido em impactos, bolinhas de ferro e níquel, formadas pelo resfriamento de gotas da pedra espacial vaporizada, e pedaços de ferro meteorítico semiderretidos e misturados com pedras locais. Nininger defendia a criação de um parque nacional e um museu público na área. Por isso, em 1953, a família de Barringer criou um museu privado na beira da cratera.

Mas as evidências definitivas de que Barringer seria uma cratera de impacto vieram dos estudos do jovem geólogo e astrônomo Eugene Shoemaker. Baseado nos artefatos geológicos achados nas crateras feitas por testes de explosões nucleares, Shoemaker somou ainda mais evidências a favor da origem cósmica da cratera.

Ele achou cristais e estruturas geológicas que só se formam sob uma enorme e instantânea pressão, como as que ocorrem durante as explosões nucleares e como sugeriu Shoemaker, nos impactos de asteroides.

Ele confirmou a teoria proposta por Nininger de que temperaturas extremamente altas geradas com o impacto, teriam vaporizado grande parte do corpo atingidor. O trabalho de Eugene Shoemaker fez de Barringer a primeira cratera comprovadamente originada do impacto de um asteroide. Ele também se tornou referência na área e motivou a busca de novas crateras como a de Barringer, que são um aviso de que o nosso planeta não está livre dos grandes impactos.

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